domingo, 27 de outubro de 2013

Verso Inverso

         O sopro quente do vento anunciava a chegada do verão. As roupas curtas e coloridas tomavam conta das vitrines das lojas, as toalhas quadriculadas da grama do parque, as redes de vôlei e os baldinhos e pazinhas de plástico da areia da praia. Sentir a água do mar passando por entre os dedos dos pés trazia de volta aquela sensação de férias. Aquelas bolas de praia e todas aquelas pipas que voavam e coloriam o céu me deixavam feliz. O pessoal marcou de fazer uma fogueira aqui hoje de noite. O que iluminava as pedrinhas minúsculas por sob nossos pés e a espuma que a água fazia quando as ondas quebravam eram as estrelas e a lua. Não havia nem sinal de nuvem. A cantoria sempre em sintonia, nem parecia que não nos víamos desde a formatura. Já sentia saudade do tempo de turma unida. Saudade da turma. Saudade de um certo alguém... Quando fui mergulhar pude perceber a correnteza embalando meus cabelos. Ao sair da água e ir me aproximando da areia notei que mais uma pessoa havia se juntado ao grupo. Tentei ser discreta ao chegar perto da fogueira. Coloquei o shorts e me sentei na roda, a espera de um oi. Sentia olhos ansiosos voltados para mim, a procura de uma resposta, mas evitava o diálogo. Todos adormeceram. Então peguei meus chinelos e fugi por aí...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ontem

         Consigo sentir o chão tremer. O som é muito alto. Quando se aproxima de mim e pega na minha mão, elas e minhas pernas vão ficando cada vez mais trêmulas, mal consigo me segurar em pé. Nossos dedos entrelaçados faziam minha mão suar. Eu estava tão nervosa. Tentava manter uma conversa, mas... Trocamos olhares por uns 2, 3 segundos quando fomos sentar. A música alta impedia um diálogo, mas só de estar ali eu já ficava inquieta. Eu precisava respirar um pouco de ar puro... "Aqui fora está frio." "Quer meu casaco?". Pude ir dormir tranquila aquele dia. Então, de repente, o sol vai invadindo o quarto, passando pelas frestas da persiana sem ao menos pedir licença... 
         Naquela manhã acordei mais feliz do que em qualquer outro dia...

sábado, 5 de outubro de 2013

         E ele caiu em depressão...
         
         A janela com cristais de gelo não mostravam mais o seu reflexo. Estava sóbrio? Será? A loucura então o tomou, assim como em um dia de chuva depois de uma seca, quando as nuvens espalham-se pelo céu e não se pode enxergar mais uma estrela sequer... A vontade saiu pela porta da frente sem ao menos dar adeus, e a felicidade já havia morrido... Ele se aproxima de uma figura, embaçada. Dificilmente, é feita uma troca de olhares, e o nada a levou consigo naquele instante. Um furacão de perguntas invadiu sua cabeça e a morte chegou com as respostas.          
         Assim que ele deu adeus, ela derramou uma, apenas uma lágrima, mas não era de tristeza. A felicidade estava estampada em sua face. A garota inocente se mantia forte naquele momento, e foi se afastando aos poucos enquanto a brisa começava a soprar mais forte. Um temporal de vento se formou e o corpo foi coberto pela neve, branca, pura... Ele foi em paz? Não sei. A pergunta calou fundo e nunca mais se ouviu falar de uma família feliz.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Grãos de Areia


Decidi-me. 

Cheguei na estação, não saberia que rumo tomaria, mesmo assim comprei passagem para o próximo trem. Enquanto esperava, gotas de água saíam de meus olhos. "Eram só os grãos de areia voando com o vento", disse a mim mesma.
Carregava em minhas costas apenas uma mochila com carteira, algumas roupas e objetos de higiene. Podia ter ficado com tudo isso em casa... Com ele. Mas meu sonho falava mais alto.
Pisei no primeiro degrau do trem. Minhas pernas trêmulas não aguentavam meu próprio peso. Enquanto entrava, podia jurar que ele vinha atrás de mim, que havia me procurado, que tentaria impedir a minha partida, correndo ofegante para chegar a tempo, declarando-se enquanto eu cheirava aquele buquê de flores que trouxera. "Bem coisa de filme", exato, "de filme", pensei.
Sentei-me no banco mais próximo do final do trem perto da janela, seria mais fácil de escutá-lo. O trem já se locomovia, as lágrimas continuavam caindo, mas agora não havia nenhum vento ou grãos de areia. Tentei escutar alguma música e acabei caindo no sono. 
"Olá".
 Acordaram-me.
 "Aceita uma xícara de café?". 
Ao ouvir esta voz, involuntariamente um sorriso se formou por baixo de meus lábios.