sexta-feira, 14 de março de 2014

             Eu podia sentir os pingos finos e gélidos da chuva e o vento até então fraco, como se fossem vários tapas contra o meu rosto, um atrás do outro. O céu escuro, a rua deserta com apenas quatro das nove lamparinas dos postes do quarteirão acesas me deixavam assustada. O meio fio recém pintado de branco estava manchando minha roupa, mas por que eu me preocuparia com uma coisa tão insignificante nesse momento? Eu desejava que aquela chuva pudesse apagar não apenas as marcas de tinta branca da calçada. Aquele sentimento persistia em ficar ali no meu peito. Eu não conseguia distinguir as gotas de chuva das lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas, só podia notar seu gosto salgado percorrendo minha boca. Talvez essa pequena faísca que existe em mim não seja o suficiente para seguir em frente, mas ela ainda era capaz de manter meu sangue fervendo. Mesmo depois de ser deixada, como um último gole de café que, por mais que esteja na xícara de porcelana mais bela e delicada, foi deixado de lado, frio.